17 janeiro 2010

stela

não lembrava se tinha matado alguém à noite.
na rua um homem lhe disse: - assassino!
não lembrava se tinha bebido
o quanto havia
e o que
muito menos seria capaz de dizer
quais substâncias ilícitas tinha dentro de si
ervas cogumelos cocas ácidos docinhos AMOR
a droga do amor
e suas cores
e estes cortes?
na mão na nuca nas pernas no pescoço
bolhas na ponta do dedo indicador
havia tocado blues?
por quanto tempo? com que intensidade?
usando quais acordes?
sentia saudades mas
do que de quem para que
e este sangue gelatinoso na cortina?
onde esteve? com quem? até que horas?
chovia? estava invisível?
eles o viram? disse-lhes algo? O que?
como voltou? por quais ruas?
o sol já havia saído?
por que as luzes estão acesas?
que gosto é esse na boca?
que perfume é esse na roupa?
por que há uma gilete na pia
p q a pia está aberta?
como disse? para que?
quem é esta mulher
enforcada na sala?
e este homem de gravata
com um revólver na boca?
que música tocavam
aquelas sombras de homens?
e este gato no teto
morto? dormindo? com medo?
o que significa o poema escrito
com sangue na porta do banheiro?
chorou enquanto andava na chuva?
e quem é este outro?
sou eu
sou eu?
eu?
não me lembro
e por que haveria de me lembrar
quem eu era?
de repente
não lembrar
de quem fui
é a saída para
deixar a si próprio
para trás?
por que lembro
que não lembro?
por que lembro
do que não consigo lembrar
mas que está lá
naquele eu
que ficou para trás
porque me lembro?
se não sei
se é eu
ou outra pessoa

você?

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