06 junho 2010

sarau dos malditos

o conhaque durou o tempo de uma tragada no monóxido de carbono

gritava como um animal na madrugada gélida,

chamou as sombras para a porrada; estas atacavam lanches gordurosos e bebiam cocas cloacas colas e não se sentiram desafiadas para uma briga sem plateia ...

além de serem humanas de longe são todas iguais; as mesmas calças, escravas de uma moda ultrapassada a 5 X sem entrada fingem que ninguém existe exceto

seus namorados & amigos & o celular que atendem mesmo sem tocar

gritava como um boi sendo morto a machadadas na madrugada de gelo

sim eles são muito mais homens em seus carros do ano, muito mais joviais e viris e a maioria tem um futuro promissor, além é claro de não fumarem 42 cigarros por hora

sua presença incomoda tanto que é mais fácil ignorá-la

a noite no clubinho acabou sem emoções, sem corações despedaçados, sem nenhum sinal de vida que grita por mais vida, sem orgasmo, sem tesão, sem dentes quebrados

o dono da banda disse que as dançarinas não fumam mais maconha & realmente odeiam poesia & não fazem ideia de quem seja augusto dos anjos

se enlouquecer prometo quebrar todas os vidros da cidade, arrebentar a pontapés todas as vitrines, comer todos os espelhos e chupar todos os retrovisores

afundou-se nas profundezas infernais do paraíso e comungou cachaça com os excluídos

lá na rua a porrada comia solta ... e o frio já não era mais faca amolada.

lei:  uma historinha contada até às 6 da tarde; nas profundezas da noite iluminada com lâmpadas de 60W a vida depende da palavra ou da ausência dela

o moreno sorria com sangue entre os dentes. disse demais? ou não disse nada?

as bolas do bilhar estalavam

barulho de ossos faciais. o homossexual com seu casaco de onça fez algo - um gesto? um movimento? uma insinuação? - e o cara de azul com um taco de bilhar arrebentou seu supercílio. os motivos são como o esgoto que ninguém vê. o homossexual pegou seu drink barato, cruzou as pernas com classe e o sangue escorreu.

- Ele é meu irmão! ele é meu irmão!

alguém pediu dinheiro para a cerveja e o copo ficou dourado

futebol arte rap samba & lembranças de craques que caíram
no crack & aviões cheio de dólares voando sobre favelas

os melhores amigos são os que são capazes de matar você e
não escondem isso. o risco é a vida

alguns se arriscam com seus narizes e notas de 5 úmidas enroladas

para mim basta cheirar o universo

no final da noite gingou com uma cadela de rua que usava um cachecol lilás.

tentou mordê-lo, sentiu seus dentes envolverem a canela

gritava como um animal morto a pauladas

2 comentários:

Rubia disse...

Poesia marginal com um toque de poesia concreta (bebiam cocas cloacas colas). Ótimo!

josé da silva disse...

- Alô! É o Pignatari? Eu & a Rubia bebemos um gole de tua coca cloaca cola.