leio teu poema
enquanto toca
"blue monday"
na imaginação
hoje tem tudo para ser mais
um dia díficil na vida
você sonhou que eu caí da janela &
com os preparativos para o enterro
"eu acordava, descobria que estava sonhando, sentia um alívio, e era só fechar os olhos pra coisa toda recomeçar"
alô mãe! o fim está chegando
Onde está a porta?
dentro de uma caixa
sem saída
ando dentro de mim
perdido
vejo coisas de olhos fechados
confuso
tua carne chora,
nem sabes que há
um escaravelho dormindo no tanque
o gato chora de fome
até aprender
a caçar
eles choram de dor
até aprenderem
a machucar
outro inocente
o processo continua
kafkiano
(...)
acordei com um pentagrama arranhado nas costas
& com formigas saindo por todos os oríficios,
inclusive pelo ânus
Buñel! Buñel!
manchete do jornal:
serial killer do amor ataca novamente
lolita 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22 dylanos, cabelos blondie, lábiostones, olhos velvet underground, curvasex pistols, unhas black flag, all staramones, voz cat power, flaming lips, aplica doses nirvanescas de amor (fina) em velhos corações nabokovianos solitários & beatlemaníacos ...
bem-vindos ao clubinho dantesco
luzes negras sobre lençóis azuis
hexagramas amorosos
bicicletas enferrujadas
abandonos em série
jogos de futebol
contradições
fotografias em pb
tapas ardentes
gravadores de voz
espancamentos
velhos lp's mofados
traumas infantis
uhf's quebrados
tentativas de suicídio
televisões fora do ar
cintadas
gritos
coças
rádios am's
mentiras & traições
fuscas
todo tipo de jogos
show de calouros
humilhações
entretenimento
& violência gratuita
missa das crianças
domingo
fantástica
decepção
nem sempre as relações de sexo livre
são relações de liberdade para todos
alô criançada o circo chegou!
venham ver o palhaço poeta
a onça que devora poesia
& o macaco que escreve contos
eróticos senhores & senhoras
tudo o que você verem de dia será sonhado por mim
& o que sonharem será visto se vocês se permitirem
viver
ainda
+ um pouco +
uma dúvida contida neste picadeiro é se em qualquer realidade a pior hora é a de acordar. a dúvida que surge depois da dúvida que já é certeza é se isso é um poema
se não for pelo menos as estrelas desenhadas com sangue
o são nas paredes desta fábrica de ilusão &
peças coloridas para automóveis suicidas
palmas!
palmas para o poeta
que gira espantado
no globo da morte
dentro da boca
com fome
do leão
(...)
enquanto isso comerei meus dedos
até que o dia ponha a cabeça para fora
de uma vez por todas
meio-dia
segunda-feira
a neblina não subiu
Fala irmão!
viver é cair da janela todos os dias
porém enquanto possuirmos asas
será uma questão de escolha se as bateremos
coincidência ou puro acaso
terça-feira passada olhei pela janela
de cara senti uma puta vertigem até que vi
lá embaixo um menino roubando goiabas maduras
lá de cima perguntei se estava chupando tudo!
ele olhou-me como se eu o insultasse;
fiquei com mais medo do olhar dele do que da queda
talvez talvez é
aquele lance da queda que sinto quando ------
ou da queda entre uma
recaída
& outra
dias desses tive um sonho estranho: estava no cemitério velho, todas as covas estavam abertas, olhei para a rua paralela, vi umas 5 ou 6 freiras andando em fila, em seguida na rua vi a mãe empurrar a vó numa cadeira de rodas... vi num álbum de fotografias que Tia Anita tinha 77 anos quando morreu. A vó estava com 75 & algo me dizia que ela morreria aos 77 como sua irmã, mas ao mesmo tempo eu sabia que já estava morta ...
o cristianismo está enraizado em nossos sonhos. raízes metafísicas & medo da morte: contradições
como bons cristãos deveríamos desejar a morte como salvação, todavia sabemos que é o fim.
não somos mais cristãos. desejamos a vida (apesar de muitas vezes eu desejar morrer, não à procura de salvação, mas como uma negação de uma vidinha de merda e medíocre que eu mesmo escolhi (que eu mesmo escolhi ?)).
finalmemte
estamos vivos. é o que importa. mesmo se seu sonho nesta realidade (a única realidade?) tivemos grandes momentos, fomos amigos, loucos, poetas, artistas, músicos, anarquistas, vagabundos, bêbados, libertinos, desbravadores de matas fechadas, malandros, mergulhadores, marginais à margem & tivemos sorte &
a sorte de ser duas pessoas diferentes vindas do mesmo lugar escuro, indo para a eternidade sem memória do desconhecido
somos o fruto espermático do mesmo desejo animal
te amo meu irmão (digo isso com lágrimas nos olhos trêmulos)
volto cambaleante depois do mergulho alegre no ribeirão
um anti-poema é um poema?
se um poema é um poema é um poema
um anti-poema é um anti-poema é um anti-poema
o anti-poema é uma poema para fora
tripas de um esfaqueado na barriga
a barrigada do mandi na pia da cozinha
os orgãos expostos pela boca do sapo atropelado
os olhos saltados do pássaro apedrejado
o pelo do nosso cachorro da infância enroscado num prego
o homem que acaba de levar um tiro & rasteja na calçada
enquanto sangra a vida pela boca
a língua roxa de fora do enforcado cujo corpo balança
remetendo a uma infância perdida na noite escura dos séculos
uma verruga
um câncer
uma ferida
o anti-poema
é um poema
depois de tudo
é um pênis
é um clitoris
(...)
sonhei com a cobra
rajada
estávamos em um ritual
no meio da mata
numa clareira
sentados
nós - meu irmão - de novo
eu tocava pandeiro
& o preto com traços indígenas disse
que deveríamos tocar com mais vida
disse isso para todos
haviam outras pessoas
com instrumentos percussivos
cujos rostos não distinguia
ver a cobra era aprender
enxergar o que não pode ser visto
objetivamente
estava misturada à arvore
não tenho ritmo
desejo tocar
você me deu algo para ingerir
havia uma semente
coloquei no começo da garganta
havia mais uma substância
que não lembro se era gosmenta
senti minha percepção mudar
a cobra agora rasteja
sobre as folhas do terreiro
não há medo
(...)
estou numa ponte
sobre um rio furioso
de águas barrentas
alaranjadas
john lennon aparece
& leva a garota
as portas para a orgia são abertas
john se foi
"The dream is over"
nós entramos
nas entranhas
da miragem
(...)
o espelho virou espelhos
depois da queda
é assim que nos vejo
agora
múltiplos reflexos
dentro da força da cachoeira
corpos de cristal gritando
ventos que desfolham margaridas
entre chuvas
o beija-flor canta
- eu nunca havia ouvido seu canto -
subo
morro a
lesma des
liza
no
asfalto
& eu só
penso em me
matar a chuva
começa de novo
(...)
o escaravelho está morto
jogaram sal em meus olhos
você arde febril
& beija o demônio
nas profundezas lacinantes
de seu próprio coração
infernal
(...)
meu corpo é esmagado
pelas engrenagens da máquina
quero expelir o sistema pela boca
tenho naúseas terríveis
vozes me assombram com suas ordens
todos temos medo do amanhã
eu não suporto mais!
quero o caos neste lugar
a destruição total das estruturas
que não me permitem ir além
dos sonhos
romper as frustrações
o câncer é a flor do mal
o sol desta manhã explodirá a terra
daqui a 5 bilhões de anos
s o ´ h a ´ g o r a
& agora tudo é possível
inclusive a poesia
ou anti-poesia cheia de graxa
entre números & gráficos
entre milhões de carros
entre alarmes
entre poluição
entre queimadas
entre torturas
entre paradoxos
assassinatos
massacres
lágrimas
guerras
vermes
pânico
falsos profetas
entre entres
entre
cegos mortos
pobres excluídos
mendigos
loucos
ainda sinto
o anti-poema selvagem
26 março 2010
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Um comentário:
Adoro mergulhar no seu mundo interior cheio de quimeras malucas.
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