13 julho 2010

amor cego (remix)

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há um ninho de morcegos no forro do meu quarto
que se agitam quando a tarde entra pela porta e
invade os cantos escuros, calados, da velha casa

achei que fossem pássaros
acendi a luz, silenciaram

do lado esquerdo do colchão não tem ninguém

& na verdade tem:

pequenos troços secos de morcegos

há um ninho de morcegos dentro da minha cabeça

quando chego
do trabalho
tenho raiva
dos morcegos

ponho um filme de Pasollini
os escuto gritando por dentro

abaixo o volume

sinto cheiro de pinho sol e  solidão. Só  o vento bate  na porta;  às vezes velhos sapos perdidos se debatem tarde da noite no alpendre como humanos querendo entrar

nem parece que
há morcegos lá
no teto morno.

do lado esquerdo
............ da cama
 não tem ninguém

na verdade tem:

pequenos amores cegos diurnos
pequenos amores cegos
pequenos amores
pequenos

quando chego tenho medo do medo

ninho de
morcegos
no forro
do quarto

pensei em gatos
acendi a luz,
nenhum miado

do lado esquerdo do
colchão não tem ninguém

na verdade tem:

um ninho humano no quarto do forro dos morcegos

pensei à noite que fosse
um rato. Armei a ratoeira,
caçei uma paranoia mamífera
peluda, a boca espumando

louca

de raiva

os morcegos continuam a cantar:

o amor é cego como um morcego que voa logo cedo contra
o sol em direção ao silêncio do quarto cheio de seu sangue

frio
.
.

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