você, vez mais cada
, triste com o rosto
queimado pelas 12h
. a cada encontro
uma despedida
antes da despedida
final que cortará
o peito. isso no meio
de nossas vidas (idas?)
o cheiro do banheiro,
o mato no quintal,
a casa antiga;
tudo passará
para ser lugar de
outras obsessões,
outras personas
no canto da cama sua
capazes de serem-me
& você já teria
abortado a criança
que foste? amada antes
do amor chegar, de saber
se há começo, metade,
fim; se tem cor ou gosto
de desgosto. então... até,
tchau, adeus. o último
beijo. a imagem que detenho
é a da porta da sala;
fechada.
28 dezembro 2010
27 dezembro 2010
pós-concreto
ahahahahahahahahahahahahaahahahahahahahahah escrevia
concreto
ahahahahahahahahahahahahaahahahahahahahahahsem saber
dos campos
kakakakakakakaka
concreto
ahahahahahahahahahahahahaahahahahahahahahahsem saber
dos campos
kakakakakakakaka
autófago
canibal de mim
arranco a pele
do dedo com os
dentes
& chupo o verme
-lho dolorido &
o impuro sai da
carne
26 dezembro 2010
da me basia mille
você é minha
safo de lesbos.
recado: estudar latim
; traduzir a língua
em basium ...
safo de lesbos.
recado: estudar latim
; traduzir a língua
em basium ...
25 dezembro 2010
taças vazias
: espíritos
transbordantes
sobrevivemos -
carbonizados
- abraçados
à queda
do monomotor
à colisão frontal
de duas carretas
carregadas com
explosivos
ao fogo
cruzado
a nós mesmos
ao que corta
sobrevivemos
(as mãos dadas
debaixo d'agua
lábios violeta)
a queimaduras de
primeiro grau
no sexo em flor
ao coma
da paixão
da carne
do navio
ao salto ornamental
do edifício itália
(sai caminhando
tranquilamente
pela tarde)
às neuroses da religião
à picada da cascável
e ao tiro
a queima roupa
(balas
perdidas, facadas,
tortura, execuções
sumárias)
ao pau de arara
a aids, ao câncer
lingüístico
febris &
delirantes
sobrevivemos
à invasão da mente
& a todas as invasões
de privacidade
ao fim blockbuster do mundo
ao consumo
das novelas
da vida irreal
(miséria luxuosa
no país da fome)
ao amor
excessivo
a si próprio
ao amor!
ao amor!
ao amor!
ao sexo
contratual
ao matrimônio
de nossos pais
ao bulling no colégio
de freiras
à hemorragia
nasal.
de todas
manias, vícios,
psicólogos,
suicídios e
overdoses
escapamos
alguém
grita:
"escaparam
até agora"
são paulo, 21 de dezembro de 2010
: espíritos
transbordantes
sobrevivemos -
carbonizados
- abraçados
à queda
do monomotor
à colisão frontal
de duas carretas
carregadas com
explosivos
ao fogo
cruzado
a nós mesmos
ao que corta
sobrevivemos
(as mãos dadas
debaixo d'agua
lábios violeta)
a queimaduras de
primeiro grau
no sexo em flor
ao coma
da paixão
da carne
do navio
ao salto ornamental
do edifício itália
(sai caminhando
tranquilamente
pela tarde)
às neuroses da religião
à picada da cascável
e ao tiro
a queima roupa
(balas
perdidas, facadas,
tortura, execuções
sumárias)
ao pau de arara
a aids, ao câncer
lingüístico
febris &
delirantes
sobrevivemos
à invasão da mente
& a todas as invasões
de privacidade
ao fim blockbuster do mundo
ao consumo
das novelas
da vida irreal
(miséria luxuosa
no país da fome)
ao amor
excessivo
a si próprio
ao amor!
ao amor!
ao amor!
ao sexo
contratual
ao matrimônio
de nossos pais
ao bulling no colégio
de freiras
à hemorragia
nasal.
de todas
manias, vícios,
psicólogos,
suicídios e
overdoses
escapamos
alguém
grita:
"escaparam
até agora"
são paulo, 21 de dezembro de 2010
22 dezembro 2010
EIUHeiUHEIUheIH (Para Daniel Chimp)
demorô *-*
aí,xô fala
pra vc, no domingo
choveu,
num tinha
tanta gente
i pá
mais mano,
foi mágico memo!
hj dpois do rolê
di skate dos cara
nóiz tava na praça
pensando umas parada
tah ligado?
quando falo "nóiz"
é pra quem confio
memo,
dô a vida
por essa pessoa,
tendeu? i vc é NÓIZ tiu!
mano, to saindo,
té mais! nóiz por
nóiz, carai!
aí,xô fala
pra vc, no domingo
choveu,
num tinha
tanta gente
i pá
mais mano,
foi mágico memo!
hj dpois do rolê
di skate dos cara
nóiz tava na praça
pensando umas parada
tah ligado?
quando falo "nóiz"
é pra quem confio
memo,
dô a vida
por essa pessoa,
tendeu? i vc é NÓIZ tiu!
mano, to saindo,
té mais! nóiz por
nóiz, carai!
17 dezembro 2010
a banda psicodélica de mil novecentos e sessenta e oito e dois mil e dez
.
não
querida não sou
um
rockstar
querida não
sou bob
dylan
beatle
stone
soul
não
baby isso não
sou não
não sou
nem eu mesmo
não sou sex
pistols
dançou
who?
nem
nem vem
não toco
guitarra
nem gaita
ou flauta
doce não
zappa
não querida
não sou
o rei
roberto
erasmo
presley
nem velvet
underground
nenhum
johnny
jimi joe
janis jim
jagger john
ronnie von
david bowie
beach boys? não
baby não
jamais raul &
não querida ...
sou uma coisa
ainda mais vã
& comezinha
.
não
querida não sou
um
rockstar
querida não
sou bob
dylan
beatle
stone
soul
não
baby isso não
sou não
não sou
nem eu mesmo
não sou sex
pistols
dançou
who?
nem
nem vem
não toco
guitarra
nem gaita
ou flauta
doce não
zappa
não querida
não sou
o rei
roberto
erasmo
presley
nem velvet
underground
nenhum
johnny
jimi joe
janis jim
jagger john
ronnie von
david bowie
beach boys? não
baby não
jamais raul &
luar nenhum
mutantes?
quem sabe
mutante
nem iggy
mc5 nirvana
lou reed
júpiter maçã!
mutantes?
quem sabe
mutante
nem iggy
mc5 nirvana
lou reed
júpiter maçã!
não querida ...
sou uma coisa
ainda mais vã
& comezinha
.
delete
tento-te
conven
-cer
com ví-
(deus?)
deos
do you
tube
man-
do te
links
para
down
load
http
dois pontos
\ invertida
& descon
versamos
conven
-cer
com ví-
(deus?)
deos
do you
tube
man-
do te
links
para
down
load
http
dois pontos
\ invertida
& descon
versamos
15 dezembro 2010
estudo das formas
.
forma é acaso que é a vida que é o acaso que
é a forma da escrita que surge em meio à vida
forma é acaso que é a vida que é o acaso que
é a forma da escrita que surge em meio à vida
por acaso
.
sonholândia
sonho que: contava
a ele que contei
a ele que sonhei
o que conto
sonhei.
conto que contei
sonhei que contava
que sonhei o que está
contado agora
sonhei & contei a ele :
- sonhei o
que conto
sonhando
ando
gerúndio
sonhando
contando
contos
sonhos que contam
sonhos aos cantos
contos que sonham
cantos
que cantam
sonhos
que sonham
estes sonhos
tão estranhos
nas entranhas
a ele que contei
a ele que sonhei
o que conto
sonhei.
conto que contei
sonhei que contava
que sonhei o que está
contado agora
sonhei & contei a ele :
- sonhei o
que conto
sonhando
ando
gerúndio
sonhando
contando
contos
sonhos que contam
sonhos aos cantos
contos que sonham
cantos
que cantam
sonhos
que sonham
estes sonhos
tão estranhos
nas entranhas
13 dezembro 2010
computerspectadores
.
as ruas estão vazias
sim
as ruas estão vazias
737 amigos e
ninguém aqui
se tirar a roupa
incendiar o corpo
não haverá
vivalma para
fazer o nome do pai
, criticar ou apagar
a não ser a câmera
pendurada no poste
a não ser a câmera
na fachada da loja
porque amanhã será
outra história
outra facada
uma nova palavra
: berenguendém
para cantá-la
por aí / berenguendém /
berenguendém berenguendém /
berenguendém //
alguém?
.
as ruas estão vazias
sim
as ruas estão vazias
737 amigos e
ninguém aqui
se tirar a roupa
incendiar o corpo
não haverá
vivalma para
fazer o nome do pai
, criticar ou apagar
a não ser a câmera
pendurada no poste
a não ser a câmera
na fachada da loja
porque amanhã será
outra história
outra facada
uma nova palavra
: berenguendém
para cantá-la
por aí / berenguendém /
berenguendém berenguendém /
berenguendém //
alguém?
.
11 dezembro 2010
maçã cúbica
depois que deletou a
conta no orkut nunca
mais nos comunicamos
estaria escondida no
facebook, divulgou o
wikileaks esta manhã
o mundo real parece
- como a infância -
cada x + ficcional
saudade dos "tablets"
de chocolate branco
pesquisei a palavra amor
em todos sites de busca
202.000.000 resultados em 0,09 segundos
"time after time"
na virtual radio;
entre chet e chat
eu
eu?
eu coletivo arriscamos
pegar uma caneta para
"passar a limpo"
numa época de inteligência coletiva
é díficil detectar a burrice individual
adão e
eva na
fila da
apple
os peixes de cristo caíram na world wide web
quero uma rede social preguiçosa para deitar
indígenas twittam do meio da floresta amazônica
lovets é um mini-software de uso instântaneo para amar
"sem o ipad minha vida
perdeu todo o sentido",
postou o pós-moderno
suicida
agora você pode ter um cérebro que não é seu
mas que pode ser acessado a qualquer hora e
lugar como se fosse por apenas 9 e 99 a hora.
"celular ultrapassado",
teclou a menina
ainda no útero
a imaginação é um banco
de dados
corrompido
conta no orkut nunca
mais nos comunicamos
estaria escondida no
facebook, divulgou o
wikileaks esta manhã
o mundo real parece
- como a infância -
cada x + ficcional
saudade dos "tablets"
de chocolate branco
pesquisei a palavra amor
em todos sites de busca
202.000.000 resultados em 0,09 segundos
"time after time"
na virtual radio;
entre chet e chat
eu
eu?
eu coletivo arriscamos
pegar uma caneta para
"passar a limpo"
numa época de inteligência coletiva
é díficil detectar a burrice individual
adão e
eva na
fila da
apple
os peixes de cristo caíram na world wide web
quero uma rede social preguiçosa para deitar
indígenas twittam do meio da floresta amazônica
lovets é um mini-software de uso instântaneo para amar
"sem o ipad minha vida
perdeu todo o sentido",
postou o pós-moderno
suicida
agora você pode ter um cérebro que não é seu
mas que pode ser acessado a qualquer hora e
lugar como se fosse por apenas 9 e 99 a hora.
"celular ultrapassado",
teclou a menina
ainda no útero
a imaginação é um banco
de dados
corrompido
10 dezembro 2010
poesia em estado crítico para o melhor inimigo
ladrão de formas (sem conteúdo)
diário íntimo para imitação de si próprio
reinvenção de emoções patéticas
xerox do xerox do xerox
silêncio! músico cover
trabalhando "o mesmo de sempre"
trabalhando "o mesmo de sempre"
máquina de reprodução massiva de versos
sonetos rimados por encomenda
comedor de cuzinhos de boys imberbes
homofóbico enrustido
taradinho de boné colorido
é possível extrair poesia do orgão sexual?
( ) sim
( ) não
( ) talvez
( ) n.d.a
urubu vegetariano
09 dezembro 2010
vermelho
.
Uma voz
- Alguém pode me ajudar?
Imagem
Uma velha ensanguentada.
Diagnóstico
Pele fria, cheiro de
sangue grosso &
escuro. respiração.
Imagem 2
vestido florido empapado
do sangue despejado por
um ponto da sua cabeça
Apesar
da dor
sorriu
Apesar
de tudo
faleceu
.
Uma voz
- Alguém pode me ajudar?
Imagem
Uma velha ensanguentada.
Diagnóstico
Pele fria, cheiro de
sangue grosso &
escuro. respiração.
Imagem 2
vestido florido empapado
do sangue despejado por
um ponto da sua cabeça
Apesar
da dor
sorriu
Apesar
de tudo
faleceu
.
08 dezembro 2010
sensos incomuns
.
1
o velho disse
:- onde há pus
não há câncer
2
o médico
postulou
o oposto
3
ele tem & não
tem câncer na
pele do nariz
05 dezembro 2010
retrato
.
você você / você me acha / você me acha você / você me / você se / se você me / me você se //
.
você você / você me acha / você me acha você / você me / você se / se você me / me você se //
.
rock 'n' suicide
.
com
as devidas
proporções
glam das
spiders from
mars
podemos ser
qualquer
persona
gem
04 dezembro 2010
CAmFG (para violão)
C
dó
Am
lá menor
F G
fá sol
C
dó lá
Am
menor fá
F G
sol
F
fá
G
sol fá
F
sol
G
fá
F
fá
G
sol fá
F
sol
G
fá
C
dó lá
Am
fá sol
F
dó lá
G
fá sol
C
dó
Am
lá menor
F G
fá & sol
C Am
dó lá menor
F G
faz sol
C
no violão
02 dezembro 2010
sistema digestório
a carne perfumada, o sol,
o rio marrom, as bicicletas na calçada,
quarta-feira, as mulatas,
as vitrines, as ruas sem saída,
o asfalto, as nuvens densas
e brancas, as curvas,
uma pontada na cabeça
as cartas de rilke, um poema
da hilda, um suco de abacaxi
com hortelã na padaria da
esquina
e um salgado morno, menos 3
reais, não mais infeliz,
("mais com menos sempre dá menos"
, somava ana lúcia na sétima série)
"onde fica a rua? dez anos
depois me lembro de você,
eu sou o, ah! tudo bem não
se lembrar, apesar de me
tratar como um velho
conhecido
maço de free sobre tua mesa,
você diz que está terminando
mais um trabalho que "já se pas
saram 27 anos desde a primeira
pesquisa","quase minha idade",
penso. "não saio mais daqui",
diz e sorri. quanto a mim "não
trabalhei mais desde a época
que aprendi que a vida não é
banco imobiliário. "ótimo então!",
um de nós fala e antes de nos
despedirmos com um aperto de mão
, no istmo: "por favor, assine aqui",
agradeço. "minhas férias começam
dia 12, ligue dia 15,
a fátima o atenderá"
aproveito a deixa,
desço as escadas,
o cachorro já não
está mais, percebo,
um motorista de ambulância, um policial
a paisana, um cobrador, "óuuuuu pico
léééééééééé"! uma mãe adolescente, uma
enfermeira no ponto do circular,o cara
de terno quem sabe um advogado,
estudantes de branco no banco
da praça, um trabalhador de uniforme
abóbora dormindo depois do almoço, uma
mulher com uma sacola de compras, um
tipo malandro assobia, uma atendente
de consultório dentário atravessando
a ponte, 47 vendedoras numa loja de
sapatos, uma família no carro, um pai
levando o filho para a escola, uma
grávida, taxistas, um casal do século XX
descendo do ônibus, as costas nuas de
uma morena apressada, um homem
fumando em frente a um restaurante,
& a minha inexistência,
invisibilidade e solidão
que amo tanto
e a lama
asfáltica
carecas, calvos, cabeludos, loiros,
morenos, perplexos, deprimidos,
motivados, risonhos, machos, ruivos,
afeminados, gays, lésbicas, exibicionistas,
misóginos, loucos, malucos, dependentes,
trapaceiros, inocentes, indecifráveis,
brancos, pretos, cores, muitas cores
e listras, horizontes e prédios,
espelhos, aromas, fumaças, cheiro
de batom, sabores, um resto de sorvete
derrete na calçada, dois mendigos,
queijos, filas, pingentes, relógios,
celulares, troca de olhares, óculos
escuros, gravatas, jóias, desempregados,
sandálias, cães, aviões, cabelos
brancos, helicópteros, jornais,
sons, placas, avenidas, a água escorre
no meio-fio, muros descascados com
trepadeiras, jardins coloridos, praças
refrigeradas, buzinas e búzios, anúncios
onde estão os poetas?
os poetas são seres
invisíveis & sós
inexistem em
existências
silenciosas
nestes tempos de
banda larga e carros sem embreagem
poetas
que amo tanto por não saber
quem são
nunca estive ou vi
um ou uma poeta
ou aquele
que finge
completamente
é tudo
menos
poeta
é a própria poesia
tudo menos poesia
& até a poesia
pode não ser
poesia e o próprio
poeta ser poesia
um cachorro dormindo na escada,
um jornal na lata
de luxo, um
pedaço de
plástico
descendo o
rio sapucaí, uma moto
quebrada, cheiro de coisa
morta, um guarda
chuva esgualepado, uma
loja de sapatos, picolé de limão, uma banca
de revistas, carros do ano que vem, um ônibus
chega de varginha, indo é meio-dia e é como
se o estômago da cidade roncasse,
o barulho aumenta, o centro agita
moças coradas de cabelo alisado,
vendedores de tudo e qualquer coisa,
sapatos de bico fino, flyers, saltos,
saias, pichações, calças que delineam
bundas, homens com camisa de times
de futebol, pedintes, um casal se
despedindo na platoforma b5
mercúrio em capricórnio
estátuas nuas, esquinas, aluga-se,
hotel, "proibido andar de bicicleta na
rodoviária", "rock the casbah" na FM
, garotas arrecadando doações para
o hospital do câncer, o cobrador,
passagens para
paisagens, casinhas no meio
do mato, chaminés, imagino
fogões de lenha, cafés e bolo
de fubá, pastos e criações,
o ônibus freia
psiiiiiiiitchuuuuuuuuuuuuuu
uma família entra
16h
hora de digerir a vida para comê-la
de novo até que um dia qualquer ela
como uma jibóia decida comer o que
restar de humano e largar a poesia
como ossos que se chupam
ou recolha as roupas do varal porque vai chover
itajubá, 2 de dezembro, 2010
o rio marrom, as bicicletas na calçada,
quarta-feira, as mulatas,
as vitrines, as ruas sem saída,
o asfalto, as nuvens densas
e brancas, as curvas,
uma pontada na cabeça
as cartas de rilke, um poema
da hilda, um suco de abacaxi
com hortelã na padaria da
esquina
e um salgado morno, menos 3
reais, não mais infeliz,
("mais com menos sempre dá menos"
, somava ana lúcia na sétima série)
"onde fica a rua? dez anos
depois me lembro de você,
eu sou o, ah! tudo bem não
se lembrar, apesar de me
tratar como um velho
conhecido
maço de free sobre tua mesa,
você diz que está terminando
mais um trabalho que "já se pas
saram 27 anos desde a primeira
pesquisa","quase minha idade",
penso. "não saio mais daqui",
diz e sorri. quanto a mim "não
trabalhei mais desde a época
que aprendi que a vida não é
banco imobiliário. "ótimo então!",
um de nós fala e antes de nos
despedirmos com um aperto de mão
, no istmo: "por favor, assine aqui",
agradeço. "minhas férias começam
dia 12, ligue dia 15,
a fátima o atenderá"
aproveito a deixa,
desço as escadas,
o cachorro já não
está mais, percebo,
um motorista de ambulância, um policial
a paisana, um cobrador, "óuuuuu pico
léééééééééé"! uma mãe adolescente, uma
enfermeira no ponto do circular,o cara
de terno quem sabe um advogado,
estudantes de branco no banco
da praça, um trabalhador de uniforme
abóbora dormindo depois do almoço, uma
mulher com uma sacola de compras, um
tipo malandro assobia, uma atendente
de consultório dentário atravessando
a ponte, 47 vendedoras numa loja de
sapatos, uma família no carro, um pai
levando o filho para a escola, uma
grávida, taxistas, um casal do século XX
descendo do ônibus, as costas nuas de
uma morena apressada, um homem
fumando em frente a um restaurante,
& a minha inexistência,
invisibilidade e solidão
que amo tanto
e a lama
asfáltica
carecas, calvos, cabeludos, loiros,
morenos, perplexos, deprimidos,
motivados, risonhos, machos, ruivos,
afeminados, gays, lésbicas, exibicionistas,
misóginos, loucos, malucos, dependentes,
trapaceiros, inocentes, indecifráveis,
brancos, pretos, cores, muitas cores
e listras, horizontes e prédios,
espelhos, aromas, fumaças, cheiro
de batom, sabores, um resto de sorvete
derrete na calçada, dois mendigos,
queijos, filas, pingentes, relógios,
celulares, troca de olhares, óculos
escuros, gravatas, jóias, desempregados,
sandálias, cães, aviões, cabelos
brancos, helicópteros, jornais,
sons, placas, avenidas, a água escorre
no meio-fio, muros descascados com
trepadeiras, jardins coloridos, praças
refrigeradas, buzinas e búzios, anúncios
onde estão os poetas?
os poetas são seres
invisíveis & sós
inexistem em
existências
silenciosas
nestes tempos de
banda larga e carros sem embreagem
poetas
que amo tanto por não saber
quem são
nunca estive ou vi
um ou uma poeta
ou aquele
que finge
completamente
é tudo
menos
poeta
é a própria poesia
tudo menos poesia
& até a poesia
pode não ser
poesia e o próprio
poeta ser poesia
um cachorro dormindo na escada,
um jornal na lata
de luxo, um
pedaço de
plástico
descendo o
rio sapucaí, uma moto
quebrada, cheiro de coisa
morta, um guarda
chuva esgualepado, uma
loja de sapatos, picolé de limão, uma banca
de revistas, carros do ano que vem, um ônibus
chega de varginha, indo é meio-dia e é como
se o estômago da cidade roncasse,
o barulho aumenta, o centro agita
moças coradas de cabelo alisado,
vendedores de tudo e qualquer coisa,
sapatos de bico fino, flyers, saltos,
saias, pichações, calças que delineam
bundas, homens com camisa de times
de futebol, pedintes, um casal se
despedindo na platoforma b5
mercúrio em capricórnio
estátuas nuas, esquinas, aluga-se,
hotel, "proibido andar de bicicleta na
rodoviária", "rock the casbah" na FM
, garotas arrecadando doações para
o hospital do câncer, o cobrador,
passagens para
paisagens, casinhas no meio
do mato, chaminés, imagino
fogões de lenha, cafés e bolo
de fubá, pastos e criações,
o ônibus freia
psiiiiiiiitchuuuuuuuuuuuuuu
uma família entra
16h
hora de digerir a vida para comê-la
de novo até que um dia qualquer ela
como uma jibóia decida comer o que
restar de humano e largar a poesia
como ossos que se chupam
ou recolha as roupas do varal porque vai chover
itajubá, 2 de dezembro, 2010
Assinar:
Postagens (Atom)